1 de Julho – Madeira – Dia da Região

Hoje passei um dia diferente: fui passear pela ilha, de mota, não a conduzir mas como viajante. De mota podemos ir a lugares diferentes, caminhos estreitos, sítios onde o carro não é aconselhado. E lá fui, em boa companhia.

Sou citadina, funchalense, embora agora viva nos arredores, mas nos arredores também já urbanos. Há algum tempo que não ia ao norte da Ilha. Soube-me bem, tão bem!

Fui a um sítio onde nunca tinha passado: Ilha, freguesia no concelho de Santana. Há um caminho estreito que desce desde o centro de Ilha, que fica bem lá alto na serra, até bem lá baixo, no leito da ribeira! Incrível! Floresta verde por todo o lado, olhamos para cima e vemos montanha a tocar no céu! De repente, numa curva, vinhas plantadas e cuidadas não se sabe por quem… um homem a regar uma pequena fazenda no meio daquela imensidão… Descemos, descemos, num caminho serpenteante e atingimos o leito da ribeira, onde a água corre cristalina e quase sem ruído, tranquilamente. Então, começamos de novo a subir tudo o que descemos e parece que se toca o céu! No alto, as serras do Pico Ruivo. À frente, de tão claro estava o horizonte, vê-se perfeitamente o Porto Santo! No meio, onde estamos, apenas serra verde! É inebriante aquela paisagem!

Continuando, chegamos a um sítio que se chama, imaginem… Sítio do Jogo da Bola! Até dá vontade de rir! Estamos perdidos?! Não! uma senhora simpática à beira da estrada diz-nos logo que estamos quase na estrada principal. E estávamos! Parecemos mesmo citadinos perdidos num dia de passeio de campo!

Continuamos. Cabanas, São Jorge, Arco de São Jorge. O Arco de São Jorge é um sítio maravilhoso, a serra verde majestosa e depois, lá em baixo, o chão de casario. Aqui o tempo é outro: casas com alpendres cobertos de vinha onde famílias estão à sombra a …imagine-se! a conversar!! idosos, adultos, jovens, crianças… a conversar, simplesmente! Diz-se bom-dia e boa-tarde a quem passa, mesmo que não se conheça, se levantarmos a mão respondem com um aceno!

A ilha aqui, no Norte, é outra, a vida é outra. Mais rural, mais dura, mais bonita. Não vi computadores nem iphones. Vi gente a conversar. Vi gente a cavar a terra num dia feriado. Vi famílias em churrascos em quintais cheios de flores coloridas que já nem se vêem na cidade: corações-de-metro, orelhinhas-de-gato nos rebordos dos canteiros, girassóis, brincos-de-princesa,…e o clima é mais fresco também, bastante mais fresco que na cidade, o ar não tem comparação em pureza, o nevoeiro aparece em cada curva de caminho a meio da serra.

Seixal, Praia da Laje: mar e serra abismal,mãe, pais e filhos, pescadores de lazer! Aqui, um ribeiro lança ao mar, constantemente, milhões de litros de água doce a que não se consegue ainda dar bom aproveitamento eficaz. Seguimos até Porto Moniz, que estava em arraial e onde o bom tempo fez encher de gente as bens conhecidas piscinas naturais. Com pena minha mas já de barriga cheia de uma excelente espetada em Boaventura, não fui dar um mergulho.

De regresso, São Vicente e começamos a descer para Meia-Légua. É a primeira vez que aqui passo depois do 20 Fevereiro. Quando, quatro meses após a tragédia, aquilo que é se percebe que já foi feito e arrumado deixa apenas ter um arrepio de imaginar o que ali aconteceu naquele dia da ribeira enfurecida! é inimaginável! A quantidade de pedregulhos e aterro que se vê é incrível! E ainda não é nada nesta zona. Quando se atinge Serra d’Água, nem sei descrever aquilo! é monstruoso a quantidade de rocha, terra, pedregulhos, eu sei lá!… o leito da ribeira está largo, enorme, tudo pedras enormes…. a pedra que já foi britada faz montes!… é inimaginável! não sei que mais dizer!… deve ter sido horrível ver aquela fúria de água por ali abaixo e o barulho da ribeira com aquelas pedras todas deveria ser ensurdecedor! Fiquei abismada! Camiões, gruas, pás-carregadoras, muita gente a trabalhar!

De regresso ao Funchal, o habitual: trânsito, tudo a correr, cafés com gente sentada com os olhos fixos nos iphones e nos telemóveis, fumo, barulho, calor.

A Madeira não é o apenas o Funchal.

Hoje é feriado regional. Celebra-se a Autonomia. Eu visitei a ilha e fiquei a conhecer a freguesia de Ilha, onde se cultivam limoeiros e onde há um lugar que se chama o Sítio do Jogo da Bola. Nem tirei fotos daqui, não dá jeito na mota e não dá jeito apreciar pela objectiva mas sim, apenas, sentir a emoção. Adorei o dia.

Algumas das fotos possíveis porque as melhores imagens são as que ficam na memória de quem passa http://www.fotopedia.com/albums/-jS5Wv8hIzs

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